Ansiedade: você sabe lidar com ela ?

Quando todas as coisas boas da vida – amor, amizade, sucesso e diversão – se tornam motivo de preocupação, é sinal de que algo está errado.  A Dra. Silvana Frassetto lembra que a ansiedade é o sentimento típico de quem vive no futuro, se preocupando com as coisas que ainda vão acontecer. Dá para conviver com a ansiedade pacificamente – e é isso que vai fazer a diferença na hora de reconhecer que nem tudo precisa ser motivo de preocupação o tempo todo. Segundo dados da International Stress Management Association, oito em cada dez trabalhadores apresentam algum sintoma de ansiedade ao longo da carreira. Em algum momento da vida, você vai ter a sensação de que não vai dar conta das coisas e isso é algo muito comum. Não existe quem nunca tenha sofrido com a ansiedade. E, acredite se quiser, isso pode ser bom.

Mas afinal, o que é essa sensação? Silvana diz que a ansiedade não é doença. “Faz parte do nosso sistema de defesa e está projetada em quase todos os animais vertebrados. Faz parte da evolução”. A seleção natural, aliás, favoreceu animais e seres humanos preocupados em excesso. Imagine o seguinte: um grupo de homens das cavernas passeia pelos campos da Pré-História, quando, de longe, aparece um tigre enfurecido. Aqueles mais inquietos, atentos ao mundo à volta, escapam primeiro. Mas os distraídos (e menos ansiosos) são presas fáceis para o animal – e, assim, também acabam eliminados do rol genético da época. Transfira isso para milênios e milênios de evolução e o resultado é que todo mundo é ansioso em menor ou maior grau.

Hoje não há mais predadores vorazes à solta para nos atacar. Mas convivemos com outras ameaças. Psicólogos da Universidade Stanford, por exemplo, provaram que pessoas mais ansiosas perdem menos dinheiro em investimentos financeiros de risco. É simples: quem se preocupa demais aprende mais rápido quando o risco de perder dinheiro é real.

O termo ansiedade é relativamente novo. Tem pouco mais de 100 anos de idade. O primeiro que falou em ansiedade da maneira como a conhecemos foi Sigmund Freud, no fim do século 19, e, ainda assim, com uma definição bem pouco precisa: ansiedade é o medo de “algo incerto, sem objeto”.

O significado mais aceito hoje em dia vem do psiquiatra australiano Aubrey Lewis que, em 1967, descreveu o termo como “um estado emocional com a qualidade do medo, desagradável, dirigido para o futuro, desproporcional e com desconforto subjetivo”. De uma forma geral, a ansiedade é um sentimento incômodo e projetado para o futuro. A pessoa ansiosa vive num estado de alerta constante por causa de uma situação que pode acontecer – e causar sofrimento. Não é à toa que o medo é um sentimento essencial para descrever a ansiedade. Ambos surgem no mesmo sistema do nosso corpo, o límbico, e estão localizados nas mesmas regiões do cérebro: a amígdala, a substância cinzenta periaquedutal e o septohipocampal.

As três são áreas que fazem parte do nosso mecanismo de defesa, que analisa o mundo à volta à procura de ameaças, registram os perigos e também armazenam novos riscos para o futuro.

Quando sentimos ansiedade, conseguimos agir racionalmente e traçar planos para eliminar o perigo com calma. Já quando sentimos medo, as nossas reações básicas são as mesmas de um animal acuado, que decide se enfrenta a ameaça ou se sai correndo para longe o mais rápido possível. O que influencia muito na ansiedade é a nossa maneira de pensar. “Se a pessoa é muito exagerada e imagina o tempo inteiro que as coisas vão dar errado, ela sofre mais com a ansiedade”, diz Silvana. Essa ideia de pensamento catastrófico faz uma pessoa ser mais preocupada do que outra.

Vamos usar como exemplo, o caso de uma mãe que está sozinha em casa e ouve um barulho na porta de entrada. Em vez de lembrar que é seu filho voltando da escola, ela imagina que são ladrões tentando invadir sua casa – e começa a sentir ansiedade. Se tivesse pensado que poderia ser simplesmente o filho, ela não teria sofrido desconforto. Por mais que essa linha de pensamento seja irracional e automática, é algo que podemos aprender a controlar – sozinhos ou com a ajuda de terapia. Assim, o processo cognitivo (que é a maneira como pensamos) é essencial para determinar o grau de ansiedade que cada pessoa vai sentir ao longo da vida.

Referências Biliográficas: 

Revista Superinterissante. Sobre a ansiedade (Outubro de 2008)
Isma – International Stress Management Association
http://www.ismabrasil.com.br/

Fonte:
Dra. Silvana Frassetto (CRP 07/18986) – É Psicóloga Clínica com Doutorado em Bioquímica (ênfase em Neurociências) pela UFRGS. Possui especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental e Terapia do Esquema (Modelo de Terapia Cognitiva com foco no tratamento de diversos transtornos de Personalidade), pela WP-Centro de Psicoterapia Cognitivo-Comportamental e Institute for Schema Therapy, em Nova Iorque. Atua como docente no Curso de Psicologia da ULBRA. Também é professora e supervisora clínica do Curso de Especialização em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental do Instituto WP, da Wainer Psicologia Cognitiva e do Curso de Especialização em Neuropsicologia da PROJECTO. É professora do Curso de Especialização em Psiquiatria do Instituto Abuchaim e tutora do COGMED – método de treinamento desenvolvido por neurocientistas que trabalha a atenção e memória operacional.

by Silvana Frassetto